"Minha vida está girando em torno de 'o que é que eu vou comer daqui a duas horas?". Foi com essa frase, e aos prantos, que desabafei, numa noite, com meu marido. De repente, eu havia percebido que as minhas grandes preocupações do dia não estavam no trabalho ou em alguma relação familiar, mas em pensar no que eu poderia comer - e que não me enjoaria - na próxima refeição. Isso pode parecer mais fácil quando suas refeições acontecem três vezes por dia, mas a gestação lhe dá uma fome de comer um elefante. E a cada duas horas. E o pior é que, para quem não está vivendo momento igual, isso parece muito bobo. Muito bobo mesmo. Não tente explicar o quanto é doloroso e desesperador. Para os outros, acredite, é bobo.
Outro dia, eu estava assistindo a um filme e eu já havia jantado e feito um lanche pouco depois. Você tem noção do que é preferir não continuar assistindo ao filme e ir dormir para evitar ter fome novamente? Isso porque você já esgotou o estoque de coisas que você teria vontade de comer naquela noite. Vale lembrar que repetir o mesmo lanche uma ou duas horas depois é impossível. Acabo de comer algo delicioso e, na mesma hora, aquele gosto satura. Quando a fome bater, vou ter que pensar em outra coisa. Nessa noite do filme, fui chorando para a cama. Desliguei a televisão e perdi o final do filme.
Cada mulher tem seus sintomas durante a gravidez. O que ocorre mais intensamente em uma não necessariamente vai acontecer com outra. Minhas irmãs, as grávidas mais próximas a mim, não tiveram grandes problemas com enjôo. Batia a fome, era só assaltar a geladeira. Comigo foi diferente. A fome bate, a geladeira está lá, mas nem tudo agrada. Na verdade, quase nada. Meu pai ofereceu algumas vezes "Quer que eu faça um almoço para você mais tarde?". O problema é não saber, às 10h da manhã, o que se vai querer comer ao meio dia. Uma carne deliciosa que você comeu no dia anterior pode ser repudiante no dia seguinte. Depois do terceiro mês passa. Para mim passou e para a maioria das grávidas passa. Mas até lá é desesperador. Então, pelo menos no meu caso, não dava para planejar nada. Batia a fome, era assaltar a geladeira e torcer para ter lá o que te apetece. Nada? Pegava o carro e saía em busca de outras opções. Feito isso, era esperar o próximo problema. Que seria daqui a duas horas. No máximo.
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