domingo, 9 de novembro de 2014

Amor de mãe, sem contos de fadas


Uma amiga minha muito querida está grávida e já demonstra sentir um amor enorme pelo filhote que ainda nem pegou nos braços. Não reclama dos incômodos da gravidez porque o encantamento da maternidade parece ser maior. Sim, se você ainda está com seu pequeno aí na barriguinha, pode até sentir esse "encantamento da maternidade". Mas amor mesmo, mamãe, você ainda está para saber o que é! Ou não.

Você pode ter estranhado o "ou não" na frase acima. Mas é que tem uma coisa que precisa ser dita: nem toda mãe sente esse amooooooor roxo pelo filho e, quer saber, esse sentimento exagerado nem faz bem. Isso funciona nos filmes e contos de fadas, mas na vida real, o amor pode até ser irracional, mas as atitudes da mamãe e a forma como o vai criar o filho, não.

É preciso saber que junto com o amor pelo filho vem uma série de tarefas e coisas que estavam fora do script. E o encantamento pelo filhote está sempre andando de mãos dadas com o cansaço, as dores, a exaustão. Muitas mães chegam a pensar que sequer amam seus filhos - e algumas nem amam mesmo, mas vamos deixar esse assunto para outro dia.

Normalmente, quem já é mãe sabe como é. Enquanto a gente está grávida, o sentimento parece ser de amor incondicional - lógico, andando ali juntinho com os incômodos da gravidez. Mas não é bem assim. O sentimento que temos, além da magia de ter um pedacinho de você aí dentro, é de proteção. É de uma leoa, capaz de lutar contra tudo e contra todos para protejer seu filhote.

Mas amor mesmo... amor de doer na alma, você ainda não sabe o que é. Você ainda não tem ideia do que é não saber mais viver sem seu filho. Seu mundo ainda não fica completamente sem sentido se alguém levá-lo embora. Pode ser amor, sim, o que você já sente por seu bebê, mas aquele amor que toma conta de todos os seus sentidos você ainda vai sentir. Na verdade, você vai construir. No dia a dia. E vai precisar lidar com isso para não tomar mesmo conta de todos os seus sentidos.

Pois é, mamãe, esse amor não deve ser avassalador. Não deve acontecer a ponto de deixá-la cega. Isso pode não ser saudável, presta atenção, heim? É preciso ter discernimento para tomar decisões e deixar a criança crescer e se desenvolver, e não criar o menino numa redoma de vidro, longe de tudo e de todos.

E se você sabe muito bem disso e não sente aquele amoooooor roxo que muitas mamães dizem sentir, não se culpe. Aliás, ser mãe, na real, é isso. É saber que a vida não é como nos filmes e você não vai, necessariamente, ser cega de amor pelo seu filho 24 horas por dia. Isso porque o pequeno pode até despertar em você os melhores sentimentos do mundo, mas junto com ele vêm cobranças, cansaço, dor, aperto financeiro e tantas preocupações no dia a dia que podem fazer você pensar "hoje eu não queria ter filho" e isso independe de você amar sua criança.

Mas, de vez em quando, você pode ser capaz de olhar para seu pequeno e perceber que ele é, sim, quem invade seu coração com toda força do mundo. Amor de mãe é o mais forte que existe. E não estou falando do amor que você vai sentir na hora do parto - ele não é nada diante do que você vai construir aos poucos, com o dia a dia, o olhar, o carinho, o toque, os bracinhos estendidos ao dizer "mamãe", para muitas mães isso tudo é mágico.

E se você está grávida e pensa que ama seu filho mais que tudo, deixa ele vir ao mundo, mamãe. Deixa você sentir o cheirinho do pé desse pequeno, deixa ele sorrir para você, deixa ele dizer as primeiras palavras, dar os primeiros passos, acalmar-se de um choro somente no seu colo. Aí, sim, você vai saber o que é amor pra valer. Por enquanto, vá cuidando dessa barriga, conversando com o pequeno e dizendo o quando você já o ama. Mas, pode apostar, você ainda não faz ideia do que é amor de mãe, do quanto esse pingo de gente ainda pode invadir seu coração e de tudo o que está por vir. Mas sem cegar, heim? Você é mãe na real, e não como as dos contos de fadas.

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