Levar o recém-nascido para casa está longe de ser um conto de fadas. É emocionante, sim, estar com seu filho e poder cuidar dele, mas os primeiros dias são cansativos. Muito. Mas muito mesmo! Algumas mães passam apenas por dias difíceis, mas outras sofrem de depressão. É a chamada depressão pós-parto. Mas, apesar de ser uma situação dramática para essas mães, elas precisam lutar contra essa tristeza profunda. E não apenas pelo bem delas, mas pelos bebês.
Antes de mais nada, é importante diferenciar tristeza de depressão. É normal as mamães se sentirem sem energia e tristes após o parto. Ficam muito irritadas e isso, em geral, aparece no terceiro dia após o nascimento do bebê. Atinge de 50% a 80% das mulheres, dura dez, quinze dias no máximo e depois some. Já a depressão pós-parto tem início algumas semanas depois do nascimento da criança. Aí a bronca é maior. A mulher chega a ficar incapacitada de realizar tarefas simples do cotidiano. Não sei dizer se cheguei a sentir tristeza, mas ficar irritada e sem energia, isso sim.
Um estudo realizado em São Paulo, com quase 400 mulheres que deram à luz em um hospital público da cidade mostrou uma prevalência de depressão pós-parto cerca de duas vezes maior que a média mundial. Agora vamos à parte que interessa à criança: os resultados mostram que os filhos dessas mães deprimidas apresentaram um certo prejuízos no desenvolvimento no primeiro ano de vida.
O Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo levantou diversas hipóteses para esse mau desenvolvimento das crianças, como a relação entre a dependência do bebê humano, sua predisposição natural para a formação de vínculos e a necessidade de se inserir em um grupo familiar e cultural para o desenvolvimento cognitivo. Investigou-se ainda a influência das dificuldades do ambiente social e afetivo sobre as estratégias de investimento parental e de desenvolvimento infantil. Isso tudo pode afetar no desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo da criança, envolvendo a linguagem, a empatia e os comportamentos pró-sociais.
Agora, veja bem que interessante: apesar de as mães deprimidas analisadas terem revelado que se acham piores mães e terem dito que o bebê dava mais trabalho, que era difícil cuidar da criança, que eram mais impacientes e dedicavam menos tempo ao filho, o estudo mostrou que as mães que não sofrerem de depressão não agiram diferente com seus bebês. Ou seja, a depressão não interferiu de maneira significativa na qualidade da relação mãe-bebê. Esse estudo fez parte do trabalho de pós-doutorado de Vera Regina Jardim Ribeiro Marcondes Fonseca, cujos resultados foram divulgados em artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública.
A diferença, no entanto, está na interação com o bebê. Mães que não têm a depressão tendem a sorrir mais e olhar mais para seus filhos. Em quatro meses, a pesquisa mostrou que não houve diferença no desenvolvimento neuropsicomotor na comparação da relação entre mães deprimidas e mães saudáveis com seus bebês, mas os filhos das mulheres com depressão pós-parto procuravam menos o olhar da mãe. O estudo foi além e em um ano foi aplicado o procedimento da Situação Estranha de Ainsworth, que avalia o estilo de apego da criança à mãe e também seu grau de segurança.
A análise dos vídeos mostrou que os filhos de mães depressivas exploravam menos a sala, manipulavam menos os brinquedos e apresentavam mais movimentos repetitivos com as mãos, braços e cabeça quando interagiam com uma pessoa estranha na ausência temporária da mãe. Essa análise foi realizada durante o trabalho de pós-doutorado de Carla Cristine Vicente, com apoio da FAPESP. Outros estudos dizem ainda que quanto maior o nível de depressão das mães, menor a resposta das crianças para realizar uma tarefa proposta e também menor é o seu desempenho.
Por que acontece?
Não é fácil. A mulher não tem depressão porque quer. A gravidez e o parto exercem efeitos psicológicos, fisiológicos e endocrinológicos sobre o corpo e a mente da mulher. São muitas as alterações hormonais que podem contribuir para o humor das mulheres. Depois do parto, há uma redução brusca dos hormônios gonadais (estrogênio e progesterona), o que pode agravar o problema.
Também existem fatores externos que influenciam, como gravidez não desejada, rejeição na infância, menarca precoce, menor idade materna e até o fato de existirem filhos de relacionamentos anteriores ou a presença de um grande número de crianças morando na mesma casa.
Outro grande influenciador no humor da nova mamãe é o relacionamento com seu parceiro. Verdade, o apoio e o companheirismo dos papais são fundamentais para o bem estar da mãe. Não é brincadeira não. Pode colocar ainda nesse meio a falta de suporte social, instabilidade na profissão e inexperiência com crianças. Tudo é motivo para modificar o humor da mulher e contribuir para uma depressão.
Como tratar?
O tratamento vai depender da gravidade da depressão. Cada caso é um caso. Para algumas mulheres a psicoterapia de apoio resolve. Para outras, pode ser necessária a medicação. Mas é importante a consulta médica, até porque qualquer tratamento deve envolver uma equipe multidisciplinar, com obstetra, psquiatra e psicólogo.
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